Definitivamente os anos 2000 foram especialmente ricos para as culturas urbanas, vimos o boom da literatura marginal/periférica, dos saraus, slams, batalhas de rima e afins. Além disso, no mesmo período, nascia o Teatro Hip-Hop pelas mãos – cabeças, corpos, vozes, microfones – do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos.
Teatro Hip-Hop: O que é?
Segundo Roberta Estrela D’ Alva, o Teatro Hip-Hop é uma linguagem que nasce do diálogo entre a cultura Hip-Hop e o Teatro Épico, como proposto pelo dramaturgo e poeta Bertold Bretch, ou seja, é uma linguagem que conjuga diferentes referências e, principalmente, práticas distintas. Como linguagem, o Teatro Hip-Hop nasce com o Núcleo Bartolomeu de Depoimentos, em meados dos anos 2000, partindo de uma epifania de Claudia Schapira.
De maneira geral, o marco inicial do Teatro Hip-Hop é marcado com a montagem do espetáculo Bartolomeu, que será que nele deu?, inspirado no romance, Bartleby, the Scrivener: A Story of Wall Street (1953), do escritor estadunidense Herman Melville.
Por outro lado, a nomenclatura Teatro Hip-Hop se firma ao longo do processo de montagem, dos ensaios do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos. Outro ponto importante – para o nome – acontece quando DJ Eugênio Lima, em uma viagem a Nova Iorque, toma conhecimento do Hip-Hop Theatre Festival, e do termo Hip-hop Theatre. Também fundado em 2000, o primeiro Hip-Hop Theatre Festival reuniu artistas de diferentes linguagens que criavam no universo da cultura Hip-Hop: diretores, dançarinos, poetas e dramaturgos.
O que caracteriza o Teatro Hip-Hop?
Assim como no Teatro Épico, proposto por Brecht, a relação com a situação que se vive é o que move essa linguagem. Por isso, um dos elementos mais importantes para a construção do Teatro Hip-hop é o depoimento.
Além disso, o grupo traz à baila a figura do ator-MC que conjuga essas experimentações cênicas, partindo da autorrepresentação. Nesse caso, a autorrepresentação do ator-MC, longe de ser apenas mimetização da vida, é a (re)construção do cotidiano.
Antes de tudo, na escrita, o ritmo é a principal característica. O texto, no Teatro Hip-Hop, é concebido projetando a fala, a declamação, o canto. Segundo Roberta Estrela D´alva, em seu livro, muitos espetáculos nasceram com uma música tema. E essa palavra no limiar da poesia falada, do canto, é mediatizada pela incorporação do microfone. O microfone na mão do ator-MC nunca é escondido, ele é um elemento que dá sentido à cena. E, além disso, aparece como um agente que alarga o espaço cênico, uma vez que a voz é amplificada.
Uma nova linguagem
Dessa forma, a inauguração constante do olhar aparece também nos samples, utilizado no Teatro Hip-Hop em seu sentido amplo. Ele é essa recuperação e recriação histórica própria dos processos de intertextualidade. Nas palavras do DJ Eugênio Lima:
(…) eu vejo o sample como uma pílula de poesia comprimida. Eu conheci um jornalista austríaco, que costumava dizer que , quando você sampleia uma coisa, você está comprimindo 40 anos, 30 anos, 20 anos, 10 anos de história em um beat 4 por 4 de 8 compassos. (…)
Além das danças de rua, o basquete foi escolhido como treinamento em uma das montagens do grupo, por exemplo.
Em primeiro lugar, o corpo em cena, no teatro Hip-Hop, é um corpo que dança, um corpo que ginga, um corpo que joga. Um corpo que cria realidade e possibilidade, assim como os jovens que inventaram o Hip-Hop e que seguem inventando modos de existir num mundo decidido a matá-los.
Finalmente, o Teatro e o Hip-Hop, mesmo que passem por apropriações mercadológicas, são manifestações populares e articulam em si as memórias e as possibilidades. São a constante lembrança de que se não se pode dançar, cantar e experimentar, não é revolução.
Abaixo deixamos alguns links e referências de leitura para quem quiser saber mais sobre o universo do Teatro Hip-Hop, pelas palavras de quem vive e constrói esse movimento:
O teatro hip-hop como linguagem (Roberta Estrela D’Alva);
O teatro hip-hop como linguagem e alguns de seus pontos fundamentais (Roberta Estrela D’Alva);
Teatro Hip-hop – a performance poética do Ator-MC (Roberta Estrela D’Alva).
Até a próxima!