Hyperpop
100 Gecs

A expressão exagerada e barulhenta do Hyperpop!

Conheça mais sobre a história e as características marcantes do Hyperpop, uma vertente brilhante do Pop que ainda tem muito para crescer!

Hoje é dia de olhar um cantinho do Pop. Um cantinho diferente, estranho, barulhento, brilhante, com cheiro de bebida energética, chiclete e computador. É o Hyperpop.

O gênero é um exagero, lógico ou ilógico do Pop, que tenta quebrar as expectativas do que um som “convencional”, mainstream, oferece para artistas. Muitos desses artistas são trans ou não-binários, o que reflete na falta de classificação específica para o seu som. Assim, a modulação de voz a ponto de tornar irreconhecível o gênero de quem canta, se torna um dos traços marcantes do Hyperpop, como visto em 100 gecs ou Dorian Electra.

Outra característica marcante do gênero é o quanto o low end toma conta da mixagem. Ainda nessa mixagem tem a força da palma/caixa, que muitas vezes vai ser alta demais, não importa o valor da produção da faixa. E muito, muito glitch, pra ocupar o resto do espaço.

A ideia é usar sintetizadores de um jeito que outras vertentes do Pop não estavam utilizando. Aquilo que é computadorizado, metálico, quase industrial, é muito mais presente no Hyperpop, que se mistura com o Glitchcore.

É claro que a história do gênero se mistura com a da PC Music, um selo que é creditado como precursor do que vem a ser basicamente um movimento. Criado pelo produtor A.G. Cook, o coletivo começou a lançar músicas no gênero quase dez anos atrás, no SoundCloud, e passou quatro ou cinco anos expandindo, até que alcançou notoriedade com uma explosão em popularidade da cantora e compositora Charli XCX, quando ela lançou projetos produzidos pelo próprio A.G. Cook e uma outra produtora que se tornaria um dos grandes nomes desse gênero, SOPHIE.

“Vroom Vroom”, com produção de SOPHIE, e “Number 1 Angel” e “POP 2” com produção de Cook, foram projetos que mudaram totalmente o modo como Charli abordava o Pop, se tornando os projetos mais aclamados dela, até o disco que veio depois, “CHARLI”, que usou muitos desses métodos de produção, pareados com letras muito bem escritas pela própria Charli.

É preciso falar sobre SOPHIE. A produtora escocesa que faleceu em janeiro de 2021 foi uma das pioneiras do gênero, tendo produzido músicas com A.G. Cook ainda em 2014. Sendo assim, ela era também uma das artistas que mais empurrava o gênero para possibilidades que outros não faziam. Em 2018 ela lançou seu único álbum de estúdio, “Oil of Every Pearl’s Un-Insides”, encapsulando tudo que ela havia cativado para seu som, usando glitch, distorção vocal, forçando o low end, mas também com composições inteligentes e irônicas. Músicas como “Faceshopping” e “Ponyboy”, que são escritas de forma inteligente e têm produção notória.

Ainda tem a produção de SOPHIE para a faixa “Yeah Right”, de Vince Staples, com feat de Kendrick Lamar e coprodução de Flume. Agressiva, alta, com glitch, é uma das melhores faixas de Vince e um dos melhores feats de Kendrick, com flexão de flow e variação de tempo e ritmo, prato cheio para o rapper que já estava no topo em 2017.

Mas se isso é o Hyperpop chegando mais perto do mainstream, o outro lado do gênero é o que não tenta ser nada mais do que aquela expressão exagerada. E aí chegamos em 100 gecs. O duo formado por Dylan Brady e Laura Les lá em 2015, lançou seu álbum de estreia em 2019, “1000 gecs” (100 gecos x 10 faixas = 1000). Ainda mais agressivo nas distorções vocais, com ainda mais loucura em rotações estranhas, 1000 gecs não deixa de usar fundamentos do Pop e músicas tradicionais, como em “Ringtone”, uma progressão de quatro notas vista com abundância na música. Mas a voz que parece vir de Alvin e os Esquilos não te deixa achar que aquilo é uma coisa que você ouviria na natureza.

O gênero ainda tem muito para crescer, se é que vai chegar um dia a ser mainstream, mas não parece o caso. Porque as músicas de Hyperpop parecem com um canto da internet, da velha internet, com vídeos esquisitos feitos por pessoas que só querem fazer uma coisa, sem pensar no quanto de dinheiro aquilo vai trazer.

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