Quando o basquete encontrou o Hip-Hop Parte 2: The Blackout

O maior jogo de basquete que nunca aconteceu!

Não sei se existe um outro esporte que se conecte com a música de forma tão intensa como o basquete e o Rap.

Esse casamento é tão perfeito, tão poderoso que tivemos que fazer a segunda parte dessa matéria. E com certeza tem história pra contar em uma terceira, quarta parte e etc.

A trilha sonora do basquete

Se você é um acompanhante assíduo da NBA, já reparou que sempre rolam uns instrumentais de Rap do nada no meio dos jogos? Já reparou também que 95% das trilhas sonoras de filmes e séries de basquete, são Raps? Quer provas? Assista “Coach Carter” e “He Got Game”. Quer algo mais atual? As músicas que tocam na série do maior de todos os tempos, “The Last Dance”.

O treinador discute com seus jogadores o top 5 rappers de todos os tempos na série “Last Chance U: Basketball”.

Esses exemplos só comprovam que o basquete está enraizado na cultura Hip-Hop e vice-versa. Mas quem foi o pioneiro disso tudo? Sinceramente, não sabemos! Mas o objetivo é sempre trazer mais informações e histórias desse casamento que não tem fim!

They’re playing Basketball
We love that Basketball

Esse é o refrão da música de Kurtis Blow de 1984, afirmando que esse é seu esporte predileto e citando várias jogadas e jogadores favoritos da época.

Praticamente uma geração depois – em 2002 -, Lil Bow Wow e Fabolous rimaram no mesmo beat de Kurtis, numa versão um pouco mais acelerada, para a trilha sonora do filme “Like Mike”, onde Bow atuou. A única diferença entra as duas versões, é que no vídeo clipe de 84, as roupas são mais apertadas e em 2002, as calças e camisetas largas dominavam as quadras. Isso por causa daquele carinha da Philadelphia (falamos sobre ele na primeira matéria).

Bom, falamos que nos anos 80 tivemos rapper rimando sobre basquete (Kurtis Blow), e nos anos 90 tivemos jogador de basquete profissional se arriscando como rapper. Pra quem não sabe, Shaquille O’Neal gravou seu primeiro disco de Rap um ano após ser draftado pela NBA. Ele tem 4 álbuns lançados, com participações de lendários grupos e rappers da época, como Fu-Schnickens, Erick Sermon, alguns membros do Wu-Tang, Mobb Deep e etc. Big Shaq se solidificou muito bem como rapper nos anos 90.

Rappers em quadra

E nos anos 2000, tivemos rappers e jogadores profissionais jogando juntos! E o mais interessante, em campeonato informal, como se fosse a várzea do basquete!

Para contar essa história, precisamos voltar no tempo.

Em Nova York – meca da cultura Hip-Hop, olha a ironia do destino – existe uma quadra de rua chamada Rucker Park, mais especificamente localizada do bairro do Harlem. A quadra ganhou esse nome na década de 50, pois, um professor local chamado Holcombe Rucker organizou um campeonato de basquete, com o objetivo de tirar a juventude preta do crime e trazer para o esporte, consequentemente, seguindo uma carreira colegial.

Esse projeto deu tão certo que a tradição seguiu por décadas, tirando jovens das ruas, levando-os à faculdade e também revelando grandes jogadores. Kyrie Irving, por exemplo, é uma cria do Rucker Park.

Além de revelar jogadores, despertou o interesse de atletas profissionais da NBA em jogar no Rucker Park. Craques como Allen Iverson, Kevin Durant, Kobe Bryant (RIP) entre vários outros, jogaram na quadra no auge da carreira.

Para entender melhor toda a história de como se popularizou o Rucker Park, assistam o documentário “#Rucker50 – Gigantes do Basquete” disponível na Netflix. Pois agora vamos falar de mais uma fusão que aconteceu entre o Rap e o basquete no início dos anos 2000.

O maior jogo de basquete que nunca aconteceu

Tudo aconteceu no Entertainer’s Basketball Classic, torneio de basquete onde jogadores da NBA, NCAA e artistas do mundo da música e cinema se juntam para disputar o troféu de melhor time.

Em 2003, os rappers no topo do mainstream, Jay-Z e Fat Joe, ambos de NY – Brooklyn e Bronx – montaram, cada um, super times para tentar ganhar o torneio. O investimento foi tão pesado, que ambos chegaram à grande final. Quando eu digo “super times”, não é brincadeira. Joe Crack tinha Allen Iverson, Carmelo Anthony, Yao Ming e etc. Hova tinha em seu time Jamal Crawford, o recém-draftado como primeira escolha LeBron James e ainda tentava trazer o Big Shaq – tentava, pois, as mudanças de jogadores/artistas no torneio eram normais, devido às suas agendas.

De um lado, Jay-Z tinha recém fechado uma parceria com a Rebook para vender uma linha de tênis em seu nome. Do outro, Fat Joe quase conseguiu uma parceria com a linha de tênis Jordan. Ele chegou a fazer reuniões com o Michael, porém, o que esfriou as negociações foi sua treta com Curtis “50 Cent” Jackson. MJ deixou claro que não queria se envolver nessas confusões do Rap. Isso é para entendermos o peso que teve o torneio no ano de 2003.

O dia da grande final ficou conhecido como “The Blackout, the Greatest Basketball Game That Never Was” (Blackout, o maior jogo de basquete que nunca aconteceu). Isso mesmo, o jogo infelizmente não aconteceu! E o motivo foi exatamente o mesmo que consequentemente fez expandir a cultura Hip-Hop lá nos anos 70 – olha a ironia novamente -, um blackout na cidade de Nova York!

O Jogo estava marcado para mais ou menos às 20h do dia 14 de Agosto de 2003. Com mais de 10 mil espectadores aguardando, de repente tudo se apaga antes do jogo. A organização começou a correr para entender o que estava acontecendo. Como a energia não voltou, Jay-Z teve a ideia de colocar os carros de frente para a quadra, acendendo os faróis para iluminar tudo. Ele colocou a ideia em prática, porém, a polícia (como sempre) não deixou o evento acontecer.

Não teve jogo!

Depois disso, o jogo até foi remarcado para uma segunda-feira, porém, a agenda de vários jogadores, rappers e etc., estava comprometida. Jay-Z, por exemplo, estava de férias com sua namorada Beyoncé e não compareceu. Fat Joe conseguiu montar seu time (com desfalques) e compareceu naquela segunda-feira. A vitória por W.O. da Terror Squad sobre a Roc-A Fella foi eternizada na linha do hit clássico de 2004 “Lean Back”, onde Joe rima:

Kay keep tellin me to speak about the Rucker
Matter of fact, I don’t wanna speak about the Rucker
Not even Pee Wee Kirkland could imagine this
My niggas didn’t have to play to win the championship, come on!

Kay continua me dizendo para falar sobre Rucker
Na verdade, eu não quero falar sobre Rucker
Nem mesmo Pee Wee Kirkland poderia imaginar isso
Meus manos nem precisam jogar para ganhar esse campeonato!

Até hoje os fãs e os próprios rappers brincam sobre quem teria levado o título se o jogo tivesse acontecido. E você? Apostaria suas fichas em quem?

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