O Festival MADA, que aconteceu na Arena das Dunas em Natal nos dias 23 e 24 de setembro, pôs a galera pra curtir muito som diferente, dançante e eletrizante, do pôr-do-sol até ele nascer outra vez. Dividido em dois palcos, a ideia era que assim que um show acabasse em um palco, outro começasse imediatamente no outro.
Infelizmente, no primeiro dia, uma mudança de posição entre dois artistas aumentou esse espaço entre shows, fazendo com que o show de Glória Groove, um dos mais antecipados da noite, começasse mais de meia-hora depois do previsto. Isso não impediu ninguém de se divertir. O show de Emicida fez todo mundo cantar que “quem tem um amigo tem tudo” e que “tudo que nós tem é nós!”, de peito cheio. A cena do gramado cheio de braços levantados cantando emocionados fez até mesmo o artista admirar a multidão.
O ambiente do Festival MADA
O tempo de espera entre shows não era desperdiçado. Piscina de bolinhas para pescar brindes, estação de fotos, uma área da preguiça onde a galera se deitava na grama e até touro mecânico, o festival tinha muita coisa pra ser vista e muito o que fazer quando não se estava nos shows.
Os bares abastecidos com cerveja relativamente barata para um festival garantiu que ninguém passasse calor por muito tempo.
De volta aos shows
As duas últimas atrações da sexta-feira foram Glória Groove e Djonga. Primeiro, Glória cantou hit atrás de hit, com uma performance de tirar o fôlego, onde ela trocou de figurino pelo menos quatro vezes. O espetáculo a viu dançar, cantar e ser uma verdadeira simpatia com o público. Os covers feitos por Glória garantiram que o público não ia esquecer daquele show, com “Máscara” por Pitty, “Exagerado” de Cazuza e “Malandragem” de Cássia Eller, além da sua música com Baco Exu do Blues, “Samba in Paris”.
Imediatamente depois do show de Glória, com um rápido anúncio, Djonga já puxou a galera com sua energia e intensidade. Mesmo depois de muita gente ter ido embora depois de ver Glória, ainda tinha muita gente para ver Djonga. Passava das duas da manhã e se tinha alguém cansado ali, rapidamente deixou de estar. Em “LEAL”, Djonga convidou vários casais para subirem ao palco e declararem seu amor “verdadeiro ou não”, como ele mesmo disse. O restante do show foi uma variação de intensidade, com o rapper se comunicando com a plateia talvez até para manter o público alerta com seu show.
Segundo dia do Festival MADA
É preciso notar, para aqueles que não são de Natal ou da região, que por aqui o Sol nasce primeiro do que em qualquer lugar do Brasil. E nesse sentido, ele se põe primeiro também. Então quando o festival abria os portões às 18h, já era noite a pelo menos vinte minutos. Essa dinâmica do sol vai voltar em breve no texto.
O primeiro show que peguei neste dia foi o de Don L, produtor, rapper e letrista nordestino. Don começou apresentando músicas de seu aclamadíssimo trabalho recente, “Roteiro para Aïnouz (Vol.2)”, antes de entrar em músicas do “Caro Vapor”, álbum que em outubro completa 9 anos. Dividindo o palco com Alt Niss e Terra Preta, toda a sonoridade e musicalidade de Don L estava evidente nas letras cantadas a todos pulmões pelo público.
A apresentação de Don L durou pouco mais de uma hora, cobrindo bem as músicas favoritas da galera, que mal teve tempo de pensar quando a anunciadora introduziu a cantora mineira, Marina Sena. Um show performático, com muitas coreografias, Marina cativou o público com o seu carisma natural, reconhecendo umas duas ou três pessoas na multidão. O setlist dela não foge do álbum, mas tem a vantagem de que o público conhecia absolutamente todas as suas músicas de ponta a ponta. Provavelmente o show que mais contribuiu para a rouquidão coletiva que viria no dia seguinte.
Mayra Andrade veio logo em seguida, com um barrigão de 7 meses, desfilando swing, ginga e carisma. Artista de Cabo Verde, ela cantou em português, crioulo, francês e espanhol. A banda mostrou toda sua versatilidade, agradando o público, que não diminuiu o ritmo e estava vidrado ao palco.
Seguindo o show de Mayra, veio a banda BaianaSystem, pela quarta vez se apresentando no festival. Esse show garantiu o reabastecimento das reservas de energia de todo mundo presente. Primeiro que eles pareciam ter aumentado o volume para o 12, e quando começou a apresentar sua mistura sonora, com swingueira, guitarra baiana e muita percussão, ninguém conseguiria ficar parado. Não apenas a alta energia de Baiana, mas sua mensagem, moveram o público em vários gritos anti-bolsonaro e em favor de Lula. A banda tocou por muito mais que uma hora e meia, mas ninguém sentiu nada, e o público estava pronto para o show de Luísa e os Alquimistas, banda potiguar que mistura brega, forró, tecno brega, reggaeton e outros ritmos latinos.
Com o álbum “Elixir” lançado apenas um dia antes (muito bom álbum, por sinal), a banda aproveitou para pôr em prática aquilo que estava no CD, e o público respondeu, cantando todas as músicas. As vantagens, também, de ser uma banda local. Luísa, que tem muita versatilidade, cantando em português, inglês ou espanhol, capturou o público para cantar o single “Guapetona”, um reggaeton dançante e sensual.
Encerrando as atrações principais, Linn da Quebrada subiu ao palco Brisanet quase às 3h da manhã. Lá, apresentou suas fortes mensagens em favor das pessoas trans e de sua música. A performance de Linn fez o público dançar até o sol dar seus primeiros sinais. Com participação de Luísa Nascim de Luísa e os Alquimistas em “Dispara”, e de Potyguara Bardo (outra artista local que havia se apresentado no festival, mas no dia anterior) em “Pense & Dance” Linn emocionou e cantou junto com o público até o último momento.
Amanhece na Cidade do Sol
Após a apresentação de Linn da Quebrada, o afterparty ficou por conta de Danilo Kauan, DJ local, e seu espetáculo Baile do DK. Teatral, o cenário de vitrais de igreja recebeu um MC que declamou alguns versões, antes de sair do palco e os vitrais se abrirem para revelarem DK, com seu figurino futurista, salto plataforma e os dançarinos tomarem conta do lugar. DK tocou muitos remixes, com funk carioca, brega funk, drum&bass e muita variação.
O dia amanheceu com muito mais gente do que no dia anterior, ainda dançando e pirando no som de um DJ local, no maior festival que a cidade promove. Ao se despedir, emocionado, DK agradeceu ao público pela recepção e marcou a importância daquela apresentação, a primeira neste festival, para a carreira.