O Fino da Zica e a documentação do Hip-Hop nacional

Desde 2011 O Fino da Zica traz grandes nomes do Hip-Hop nacional em entrevistas finíssimas!

Sempre soubemos que a cultura Hip-Hop possui quatro elementos essenciais em sua origem, mas com o passar dos anos o movimento cresceu e ganhou novos contornos, daí foi necessário o surgimento de veículos de comunicação que trabalhem com a cultura, uma vez que, os de grande mídia quase sempre marginalizaram o movimento ou o descrevem de forma superficial sem conhecimento.

A informação é a base da cultura Hip-Hop, dentre tantos portais importantes que surgiram no decorrer dos anos, o canal O Fino da Zica nasceu e se desenvolveu como um dos mais influentes no meio audiovisual com entrevistas e matérias com ícones do Rap brasileiro.

Surgindo inicialmente como um podcast, O Fino da Zica virou canal do YouTube e se expandiu, hoje conta com uma equipe empenhada em buscar e passar informação de qualidade, feito por pessoas que amam para pessoas que amam a cultura Hip-Hop.

Trocamos umas ideias com a galera do Fino da Zica, sobre as suas influências, origens e maiores desafios nesse meio de comunicação que é a internet. Confiram!

Kalamidade: Quando e como surgiu a ideia de criar o canal O Fino da Zica e quais foram as suas influências no momento de criar o canal?

Fino da Zica: O Fino da Zica começou em 2011 no formato de podcast online, dentro da Rádio Jacaré. Foi mais de um ano nesse formato, com sete entrevistados, dentre eles Kamau, Amiri e Z’África Brasil. Em 2015 o projeto volta no formato de vídeo em um canal do YouTube, são acrescentados quadros e ano após ano fomos refinando o formato de entrevista, trazendo perguntas fixas. A ideia sempre foi entrevistar o ser humano por trás do artista, mostrar para o público, para os fãs e para nós mesmos, o que construiu a pessoa que se tornou um artista.

K: Quais são as pessoas que compõem a equipe atualmente?

F: Atualmente estamos em cinco membros ativos: Filipe Campos, Mana Bella, Murilo Aquino, Gabo Medina e Rafa Padu. Também contamos com vários outros membros que colaboram por vezes diretamente, por vezes indiretamente com O Fino. Um deles é o Jão Mello, que estava na equipe original d’O Fino Podcast e o MMoneis, nosso primeiro entrevistado versão vídeo que participou ativamente de todas as realizações offline do canal. Contamos ainda com profissionais do design, comunicação, mídias sociais, jornalismo, relações públicas, audiovisual, entre outros. Todos membres que dedicam-se inteiramente por amor ao Hip-Hop e ao que o O Fino construiu nos últimos anos de luta.

K: Como foi o envolvimento da equipe com a cultura Hip-Hop?

F: No início éramos apenas fãs e pessoas que admiravam Hip Hop. Alguns escutavam Rap mais do que outros. Alguns eram mais ligados em poesia e artes visuais. Mas sempre nos identificamos muito com a cultura Hip-Hop.

Hoje contamos com a Mana Bella, uma membra ativa d’O Fino que está há mais de sete anos atuando ativamente no Hip-Hop como artista, arte-educadora e produtora cultural. Como gostamos muito do trabalho dela, a apresentamos como entrevistada que irá estrear a nova temporada de 2021. Corre lá pra dar um check!

Nossa lista de entrevistados até hoje dá uma dica de qual vertente do Hip-Hop nos identificamos. Tendemos a gostar de artistas com mensagens pertinentes, ativistas e com produções que realmente significam para eles mesmos e nos inspiram de alguma maneira. Tivemos também, desde o início da caminhada em versão vídeo, um envolvimento direto muito forte com a rua, com festivais legítimos da cultura que se propuseram a juntar a maior parte possível das diferentes faces do Hip-Hop em um mesmo evento.

K: Sempre é dito que a cultura hip hop possui quatro ou mais elementos, mas raramente falam da importância da galera da comunicação. Como vocês enxergam os portais/sites de Hip-Hop nesse contexto e qual a importância deles nos dias atuais?

F: O Hip-Hop pra nós é muito mais do que os quatro elementos. Em sua essência, lá nos primórdios, ele se deu pela urgente necessidade de unir forças para combater a violência entre gangues.

Hoje enxergamos essa (re)união de suma importância tendo em vista o crescimento da disseminação do discurso de ódio, totalitarismo e dissidências da cultura que promovem a separação do movimento. Uma das ferramentas mais fortes hoje em dia é a internet que deve ser usada (com responsabilidade) justamente para combater essas ondas negativas.

Os portais/sites (que se dizem) de Hip-Hop são os veículos que na nossa opinião devem promover essa reunião da Cultura, envolta de arte e visando o bem estar de todes, e não disseminar conteúdo que gere audiência e falar de Rap achando que está tratando do movimento como um todo.

K: Vocês entrevistaram grandes nomes da cena, dentre tantos, quais foram as entrevistas mais marcantes do canal na opinião de vocês?

F: Nosso movimento de entrevistas nas quatro primeiras temporadas foi muito voltado ao Rap, como vocês devem ter percebido. Hoje vemos a importância de tratar sobre o Movimento Hip-Hop de forma mais ampla e acreditamos que assim contribuiremos de forma mais efetiva para a Cultura.

Nos surpreendemos sempre que o artista chega, temos sempre uma ideia de como será e sempre é melhor ainda. Os artistas se sentem à vontade e falam como se estivessem falando olhando na bola do olho dos fãs, o que é muito massa.

Uma história interessante de ser contata é do nosso primeiro entrevistado na versão vídeo, MMoneis, um cidadão grajauense muito ativista e respeitado na quebrada dele. Estávamos no show do GOG no Vale do Anhangabaú com mais 10.000 pessoas ao redor e ele apareceu vendendo o primeiro CD dele, “Manutenção dos Fatos”. De cara curtimos a capa e as ideias do mano. O CD ficou parado semanas e um dia resolvemos colocar pra ouvir e desde então ficou dois meses tocando sem parar, chapamos!

Na mesma época estávamos gestando O Fino da Zica versão vídeo e o chamamos para ser nosso episódio piloto. Ele não só aceitou, como participou e participa ativamente de todas as ações offline do canal e é um conselheiro muito importante para nossa caminhada. O Fino também contribuiu com a caminhada dele fazendo campanhas de financiamento coletivo para dois videoclipes que ainda estão por sair e ajudou a realizar o lançamento do disco “Tempo Novo”, último lançamento do MMoneis impresso.

Outro artista muito parceiro que a anos ensaiamos ações conjuntas é o Renan Inquérito, um dos artistas que mais respeitamos dentro do Hip-Hop. Fizemos uma experiência nova com ele que foi criar uma campanha de lançamento para o disco pandêmico dele “(ISO) Lamento”. Fizemos um ensaio pela primeira vez para ele que ficou muito da hora, dá uma checada lá!

Entrevistados épicos: MMoneis, Renan Inquérito, Rincon Sapiência, Tássia Reis, MC Marechal, DJ KLJay, Zudizilla, Cris SNJ, Dory de Oliveira e uma entrevistada que vai sair em Maio agora. Aguardem!

K: Qual foi a influência da pandemia no trabalho de vocês no último ano? E como ainda está sendo?

F: A pandemia chegou em um momento péssimo para nós. Começo de ano, estávamos encabeçando vários projetos interessantes, crescendo em alcance e reconhecimento de público e BOOM, estourou a pandemia. Então foi um baita susto ter que parar TUDO. Mas atualmente vejo pelo lado bom, ajudou a todos darem uma respirada, tirarem uma férias d’O Fino que vinha numa toada direto desde 2016, olhar um pouco para si e voltar com muito mais gás. Ano passado morremos, e esse não iremos morrer! Fizemos um vídeo retrospectiva do ano de 2020, da um check lá!

Foi um ano difícil do ponto de vista pessoal mesmo, antes de Finos somos Gabriel, Filipe, Murilo, Rafael e Isabela. Individualmente passamos por momentos de cuidado e sempre que o indivíduo passa por uma situação complicada, O Fino sente. E foi o caso do ano passado, estávamos no corre da sobrevivência em meio a pandemia e optamos por dar tempo ao tempo. Inicialmente achávamos que logo isso passaria e que voltaríamos, não queríamos fazer entrevista online, gostamos muito da presença ali com o artista. Mas quando o bagulho foi se estendendo, vimos que seria necessário deixar de lado nossas vontades individuais de conhecer e trocar com o artista pessoalmente para manter O Fino vivo, um trabalho que já vai fazer nove anos.

Hoje O Fino ganhou uma integrante muito importante em vários aspectos, estávamos a muitos anos com os mesmos integrantes, entusiastas da Cultura. A Mana Bella não só trouxe o olhar de dentro do movimento, da periferia, descentralizado do sudeste, como também um tom feminino que O Fino precisava muito. Esse ano vamos vir pesadões com quadro novo, abrangência da entrevista ao movimento Hip-Hop e ainda mais diversidade para conseguirmos ter um olhar o mais amplo e diverso possível da Cultura.

K: Quais novidades podemos esperar para o canal?

F: A mais relevante acho que é essa mudança curatorial das entrevistas, antes voltadas ao Rap e hoje buscando essa abrangência e diversidade do movimento como um todo, que vai muito além dos quatro elementos.

Conforme comentado, temos quadro novo esse ano que ainda não tem nome definido, mas serão lives de artistas que são Hip-Hop na veia, ou seja múltiplos em suas ações, para muito além de rimas. Serão vídeos de 10 minutos, gravados em exclusividade por/para nós com frequência ainda a definir.

Além disso estreamos semana passada “O Fino Indica”, que serão vídeos semanais às quartas-feiras, com dicas e novidades da Arte e Cultura para o nosso público.

Acompanhe o corre d’O Fino da Zica nos seus canais e redes sociais: YouTube, Instagram, Twitter, Facebook.

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