A evolução dos samplers no mundo e a chegada dos equipamentos de produção no Brasil
Dentre as histórias da cultura Hip-Hop, as que envolvem as produções de beats são as mais interessantes e intrigantes. Desde o artesanato com as tapes de rolo, passando pelas machines e samples, a produção de beats no videogame, os softwares de produção que surgiram ao longo do tempo e chegaram às mãos desses produtores por downloads na internet (viva a pirataria!) chegando aos dias de hoje onde já existem IA se propondo a construir batidas.
Fazendo o recorte para nossa realidade brasileira, país de terceiro mundo onde o acesso a equipamentos sempre foi mais complexo, produzimos um infográfico buscando contar a evolução dos samplers no mundo e a chegada no Brasil.
O objetivo aqui é conhecer a história dos equipamentos de produção no mundo e entender os caminhos que foram trilhados para que esses equipamentos chegassem até aqui. Tal pesquisa busca valorizar o corre de artistas beatmakers, produtoras e produtores da cultura Hip-Hop que fizeram nascer batidas únicas que deram e dão roupagem para verdadeiros clássicos da música brasileira. Pegue seu fone de ouvido e venha com noiz nessa viagem.
A chegada dos equipamentos de produção no Brasil
ANTES DE TUDO! No dia a dia o uso das expressões se misturam e acabam, no modo PT-BR, gerando uma particularidade interessante que só nossa língua consegue gerar. Tipo a palavra manga. Que é um fruta ao mesmo tempo que é parte de uma peça de roupa ao mesmo tempo que se tornou verbo e é uma gíria para brincadeira/zoação em algumas parte do nordeste do Brasil (quem nunca ouviu alguém dizer “você tá mangando de mim é?”) e todas estão certas funcionando no mesmo ecossistema linguístico quando usadas no contexto certo.
Quando falamos de produção de beats a principal palavra que vai aparecer é o sample. Porém existem outras palavras parecidas com essas, mas relacionadas a outros contextos e significados. Entender isso é o primeiro passo para embarcar nessa viagem. Então, pega essa visão:
Sample: o sample é uma amostra sonora gravada previamente e que pode ser manipulada pelo/pela beatmaker para construção de novas músicas nas DAWs e Samplers.
Sampler: equipamento que permite o armazenamento dos samples e a reprodução dos mesmos de forma solo ou conjunta. Exemplo mais clássico são as Machines (SP, AKAI, etc) e os teclados controladores.
Sampling: o ato de produzir e construir novas sonoridades a partir dos samples. Aportuguesando seria o ato de samplear.
Dito isso, bora?
Anos 1960 – Mellotron
Desenvolvido na Inglaterra, Mellotron é um dos primeiros samplers já produzidos no mundo. O equipamento consiste em um banco de fitas magnéticas de áudio, cada uma com aproximadamente oito segundos de duração. Quando a tecla é pressionada, a cabeça do leitor é posicionada para tocar o som pré-gravado de cordas, flautas, coros masculinos e femininos.
Anos 1960 – Mellotron
1965 – Graham Bond é o primeiro músico de rock a gravar com Mellotron
Anos 1960 – Mellotron
1967 – The Beatles usam o Mellotron na faixa “Strawberry Fields Forever”, tocado por Paul McCartney.
E SE EU TE FALAR QUE:
1972 – Os Mutantes usam o Mellotron na produção do compacto “Mande um abraço pra velha”. Essa faixa carrega forte influência da música dos Beatles bem ao estilo Mutantes. O Mellotron foi tocado por Arnaldo Baptista.
Anos 1970 – Synclavier
1968 – A empresa New England Digital lançou o Synclavier como uma opção a mais para o processo de samplear. O modelo mais famoso lançado pela empresa foi o Synclavier II. Diferente do Mellotron, o Synclavier não trabalhava com fitas de rolo pré-gravadas, mas sim timbres gravados digitalmente na memória do sampler.
E SE EU TE FALAR QUE:
O aclamado álbum “Thriller” de Michael Jackson tem a sonoridade do Synclavier na sua produção. Faixas como “Billie Jean”, “Beat It” e “Thriller” foram tocadas no sampler. As gravações ficaram por conta de Anthony Marinelli.
E SE EU TE FALAR QUE:
Depois de 43 anos, em 2023 a empresa Synclavier lançou o novo sintetizador, o Regen.
Anos 1970 – Fairlight CMI
1979 – Lançamento pela empresa de mesmo nome, o Fairlight CMI é considerado o mais famoso sampler da história. Além de sampler e sintetizador o Fairlight foi o primeiro equipamento a introduzir a ideia de DAW* para a produção. Nele você selecionava timbres, gravava samples e manipulava os mesmos.
*DAW é, na tradução livre, um Digital Audio Workstation (ou Estações de Trabalho de Áudio Digital, em português), um ambiente digital que reproduz uma estação de música onde é possível produzir e criar música. Os exemplos mais famosos são o FL Studio, Ableton Live e Pro Tools.
The Drum Machine Revolution
Após o surgimento dos primeiros samplers, o mercado de produção musical teve um boom de lançamento de novos equipamentos para a criação de músicas. Diversos novos keyboards e sintetizadores que já traziam funções de sampler começaram a ser lançados. Paralelo a isso, surgia no mercado uma opção para a forma de produção de batidas que mudaria a sonoridade da música feita até aqui: as Drum Machines.
Também conhecidas como caixas de ritmo, são equipamentos que reproduzem a sonoridade da bateria orgânica e de alguns instrumentos de percussão. As baterias eletrônicas democratizaram o processo de produção em um momento em que ter acesso aos primeiros samplers era extremamente caro.
Clique nas imagens para saber mais informações.
AKAI
Nasce a MPC Akai. O ano de 1988 marca o início de umas das principais linhas de machines da história da produção musical. Neste ano a desenvolvedora AKAI lança sua linha de MPC (Music Production Center). Tendo Roger Linn a frente do desenvolvimento das MPC’s a Akai tornou-se líder do mercado com seus diversos lançamentos.
Com a virada dos anos 2000, a Akai seguiu produzindo mais e mais versões da MPC ampliando a capacidades das machines e alinhando seus upgrades com os avanços tecnológicos. A empresa desenvolveu seu próprio software de produção (DAW), o MPC Beats, para atuar com as máquinas e segue atuando no mercado com seus mais recentes lançamentos: MPC Live II e One +.
As MPC’s da Akai marcaram história na produção do Rap mundial quando o assunto é machines e até hoje está presente na grande no mercado fonográfico da produção musical da cultura Hip-Hop.
Aqui se encerra a primeira parte do nosso infográfico, na segunda parte vamos falar mais sobre como os equipamentos de produção chegaram e se proliferaram aqui no Brasil. Fique de olho!
E aí, curtiu essa matéria? Aproveita pra ler a última que saiu aqui no Kalamidade, com uma análise sobre a influência retrô da música brasileira no mundo (e vice-versa), e continue acompanhando os conteúdos GRATUITOS que o Kalamas, a banquinha mais Hip-Hop do camelódromo, traz pra você!