Gorillaz no MITA Festival / Foto: Thiago Silva

A primeira edição do MITA Festival no Brasil

Vamos dar um peão pelo MITA Festival, que o Kalamidade conferiu em SP e no RJ

Com produção e curadoria da Bonus Track & 30E em parceria com a Mango Lab (laboratório cultural que tem parceria com artistas como Letrux e Heavy Baile) o MITA Festival estreou em uma edição que reuniu Gorillaz, Gilberto Gil, Matuê, Marina Sena entre outros artistas nacionais e gringos na Spark Arena, pico novo em SP e no já conhecido Jockey Club do RJ.

A organização foi o principal ponto forte do festival, que com antecedência anunciou lines e horários, orientou seus profissionais e mobilizou vendas de alimentos e bebidas de maneira organizada. Outro ponto extremamente importante, foi como a experiência do festival incluiu a acessibilidade como um dos principais pilares do evento. Para receber o público com segurança e autonomia, já na entrada carrinhos de golfe levavam PCDs até o ponto de identificação, onde o PCD e um acompanhante recebiam identificação para ter acesso às plataformas com banheiros acessíveis, intérpretes de libras, audiodescrição e guia áudio descritivo, logo na entrada também havia opção de fazer o empréstimo da bike motorizada para se locomover por todo local.

Por ser a primeira edição da franquia MITA – que pretende ser anual nas capitais de SP e RJ – não sabíamos o que esperar deste quesito, que surpreendeu tanto nos dias de SP quanto no RJ.

Apesar do festival ter se colocado como um espaço para reflexão e discussão sobre a importância de ações de responsabilidade social e ambiental, pouco se falou no evento sobre a presença de instituições como Gerando Falcões e Instituto Vida Livre, que estavam em um stand sem muito destaque no festival.

Por outro lado, os patrocinadores e apoiadores apostaram fortemente em ações de ativação de marca que obtiveram sucesso em garantir um aumento do share of mind entre o público presente. Mesmo após um mês de festival, o público consegue dizer com facilidade quais marcas estavam presentes e as ações que fizeram no rolê.

São Paulo foi escolhida para a estreia do festival, que também foi o primeiro evento deste porte na Spark Arena e no Rio de Janeiro, o local escolhido foi o Jockey Clube, referência em receber eventos de grande porte. Com uma entrada organizada, separada em quatro portões, em nenhum momento houveram tumultos ou perturbações tanto na entrada, quanto na saída. A sala de imprensa ficava em um ponto estratégico entre os palcos possibilitando a ida e vinda dos jornalistas, além de possuir uma estrutura que facilitasse as coberturas.

Em uma line estrategicamente bem selecionada, artistas como Alice Caymmi e sua convidada Maria Luiza Jobim, Rachel Reis, Marcos Valle e Azymuth, e Jão, preencheram o lugar das performances de Marina Sena, Luedji Luna, Jean Tassy e Matuê, que aconteceram apenas em São Paulo. Divididos entre os palcos Corcovado e Deezer, 17 artistas se apresentaram para uma plateia animada e diversa, e com presença vip do Cristo Redentor de fundo.

No sábado 21, Coruja BC1 abriu o festival com um show enérgico cheio de identidade, apresentando seu último álbum “Brasil Futurista” no palco Deezer, seguido por Xênia França no palco Corcovado. Essa intercalação de palcos foi a chance do público de não perder nenhum artista, e além disso conhecer e viver a experiência vendida pelo festival, como alguns stands de patrocinadores, praça de alimentação diversificada em rangos, intervenções artísticas e dinâmicas, e banheiros bem posicionados.

Black Alien foi o próximo, arrastando uma legião de fãs pro palco Deezer, Gustavo de Nikity passeou por um set de hits de uma carreira extensa, acompanhado do DJ Erick Jay e do intérprete de Libras Fabiano Gold. Logo depois, Liniker entrou como uma explosão no palco Corcovado. A presença de palco da cantora fez a plateia debaixo do sol carioca sorrir, chorar e estar grato por tamanha performance. Como uma entidade pulsante ela cantou, dançou e encantou a todos apresentando canções do seu antigo grupo “Os Caramelows”, mas focando mais em seu voo solo “Índigo Borboleta Anil”. Acabada a performance de Liniker, foi a vez do Heavy Baile colocar geral pra dançar, com um show mega animado, que você não conseguia ficar parado um segundo.

Após os shows das bandas Two Door Cinema Club (marcado pela falta de seu frontman Alex Trimble) e The Kooks, Damon Albarn e companhia subiram ao palco exatos 20:10 da noite entoando “Hello, hello, is anyone there?”. Era a faixa “M1A1” abrindo um show catártico do Gorillaz, que se estenderia por mais ou menos uma hora e 20 minutos. O setlist que passeou pela longa carreira do grupo, trouxe faixas essenciais já aguardadas pelo público, trabalhando com interlúdios e prelúdios bem encaixados que deram destaque a banda do show, auxiliado por uma projeção visual que mostrava a banda virtual em aventuras eletrizantes.

A surpresa mais incrível que se poderia ansiar, veio logo após Michelle Ndegwa (backing vocal) protagonizar na famosíssima “Kids with Guns”, e do prelúdio “Andromeda”, marcando a subida de Posdnuos (De La Soul) no palco Corcovado. A presença do rapper completamente inesperada, chegou com “Superfast JellyFish” do álbum Plastic Beach de 2010, e continuou com a performance da emblemática “Feel Good”, extasiando completamente o público. A presença de palco de Damon Albarn também foi fascinante, com seu jeito um tanto frenético ele conseguia transmitir seu amor pelo seu público. Após um memorial para um amigo falecido, a banda volta ao palco completando o show com participações de Bootie Brown e Sweet Irie, e encerra seu catarse com Demon Days, deixando uma plateia alucinada e bem satisfeita, fechando o primeiro dia de MITA com bastante lama.

Em seu segundo dia, o MITA voltou com a presença da baiana Rachel Reis, novidade na música mpbetista, ela tem sido figurinha em festivais pelo Brasil. 12:05 marcava a entrada da cantora e compositora Alice Caymmi, e sua convidada Maria Luiza Jobim que esquentaram o público para a primeira surpresa boa do domingo. Marcos Valle, e seus célebres companheiros do Azymuth em seus mais de 40 anos de história, apresentaram faixas icônicas que passeavam entre o Jazz Fusion, Funk, Soul, e Samba. No palco Deezer, Letrux possuía o palco para si. Se debulhando em seu “Aos Prantos” Letícia Novaes deslanchou uma experiência ritualística e imersiva, em um espetáculo não só dela, mas também de sua banda.

Tom Misch com toda sua musicalidade e simpatia, recebeu Marcos Valle na homenagem “So Good (A Song for Rio)”, e embalou uma plateia fiel ao artista. A sucessão veio com Marcelo D2 e seu “Assim tocam os MEUS TAMBORES”. Cercado por sua família, no palco e no front do público, eles estavam ali como protagonistas da vida do artista, e parte da sua música. A segunda surpresa do domingo veio com a presença de Marcos Valle, (curinga em todos os shows depois do seu) e de Mamão (Azymuth), tocando “Contexto” do Planet Hemp ao vivo para uma galera privilegiada. Gilberto Gil trouxe um show emocionante para o palco Corcovado, com um pôr de sol digno do Rio de Janeiro, o encerrar da tarde foi uma pintura viva aos olhos atentos da plateia. Jão e Rufus do Sol foram os responsáveis por fechar o festival com chave de ouro, dando fim à primeira (e esperamos que não a última) edição do MITA no Brasil.

Texto por: DJ Yume e Isabela Rosa
Fotos por: Thiago Silva

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