Com a campanha “Isso Não Pode se Perder” motivada pelo Dia do Rap Nacional (06/08), nossos editoriais da semana vêm com um gostinho especial, onde vamos passar por grandes momentos da história do Hip-Hop nacional. Para esse primeiro momento preparamos um Selecta especial, onde vamos viajar por capas que marcaram época dentro do Rap nacional.
1 – As icônicas ilustrações nas capas do lendário trio RPW
O grupo RPW foi marcante em diversos aspectos para a nossa cena, seja por serem considerados os primeiros a introduzir os stage divings em seus shows, ou até mesmo por ser um dos primeiros grupos a ter uma mulher como Mestre de Cerimônia. Mas por agora vamos fazer um leve passeio pelas icônicas ilustrações que abriam as portas para os sons de RPW.
A estéticas das capas do grupo formado por Rubia, Paul e W-Yo sempre se destacaram por serem bastante cartunescas, deixando em evidência um possível gosto por história em quadrinhos de super heróis, em momentos com referências mais tímidas como o “Butman” retratado ao chão em 12” (1994), ou até mesmo de maneiras mais exuberantes como em “A Luta continua, o real Bate Cabeça” (2000) onde os membros do grupo estão vestidos como heróis.
As cores mais fortes e vivas da identidade visual também ficam como marca registrada do grupo que abusava delas em suas capas, isso vem como retrato direto do estilo que os mesmos apresentavam em seu dia a dia, sempre com roupas de marcas de skate e claro, sempre coloridas.
Em uma entrevista para o portal Noticiário Periférico, a integrante do grupo Rubia explicou o porquê da escolha de uma estética mais escrachada para o visual dos álbuns.
A ideia era realmente ir na contramão de tudo que estava sendo feito no início dos anos 90: ao invés das roupas pretas, usávamos coloridas e de marcas de skate; os beats, ao invés de lentos e pesados, eram rápidos e com arranjos/samples diferentes dos usados; ao invés de ser um grupo só de homens e, às vezes, com uma mulher fazendo os backing vocals nos refrões, era um homem e uma mina linha de frente e letristas em equidade. Então a ideia de usar desenhos nossos ao invés de fotos contou com o excelente trabalho do artista plástico e cartunista Policena, que assina todas nossas capas e flyers, e se tornou marca registrada do RPW.
2 – O início retratado em cada foto de Consciência Black Vol.1
Em 1988, a Zimbabwe Records lançou a coletânea “Consciência Black Vol.1” com a participação de nomes fundamentais na construção do movimento Hip-Hop que temos hoje em dia. A capa traz fotografias dos participantes e vem com Racionais MCs, Criminal Master, Sharylaine, Frank Frank, M.C. Gregory, Grandmaster Rap Junior e Street Dance.
Uma das maiores dificuldades quando falamos sobre registro histórico dos primórdios do Rap nacional é encontrar materiais visuais que ajudam no contar dessa história tão rica, por conta disso, a capa de Consciência Black se torna ainda tão potente e importante. O verdadeiro puro suco da história sendo retratado através da fotografia.
3 – O Grafite em evidência pela dupla Thaíde e DJ Hum
Definitivamente Thaíde e DJ Hum são uma das mais importantes duplas do Rap nacional. Dentre suas colaborações não podemos deixar de falar de “Pergunte A Quem Conhece” lançado em 1989 pelo Estúdio Eldorado, o projeto de 8 músicas conta com faixas como “Coisas do amor” e “Corpo Fechado”. A capa que retrata a dupla tem consigo um painel de grafite como cenário ideal para a fotografia enriquecendo em muito a ambientação da cena.
Recomendo que vocês assistam a série “OSGEMEOS: Segredos” no canal da Pinacoteca do Estado de São Paulo, esse documentário traz diversos nomes que não podem passar batido quando queremos falar sobre as origens do movimento, inclusive durante o primeiro episódio é comentado, mesmo que brevemente, como foi a abordagem do pessoal da gravadora Eldorado chamando os grafiteiros da São Bento para pintar o painel que estampa a capa de “Pergunte A Quem Conhece”.
3.1 – Extra: O Groove de DJ Hum
Até o momento passamos por trabalhos que quase em sua totalidade foram lançados no século passado, esse talvez é o mais atual do nosso especial. Porém achei válido trazer um pouco dessa capa por todo impacto e beleza desse trabalho do DJ Hum.
“DJ Hum e o Expresso do Groove” foi lançado em 2018, pela Humbatuque Records, nesse projeto encontramos influências indo do Rap ao Jazz, do Samba ao Soul, Samba-Rock, Funk e Neo Soul. Em 10 faixas DJ Hum produz, rima, canta e guia seus convidados pelo expresso do seu Groove. A arte da capa ficou por conta do grafiteiro Sipros responsável por espetaculares murais mundo afora.
Mural em Calle Frontera. Mural em Wynwood Art District.
4 – O impacto visual de Facção Central
O grupo paulista Facção Central desde seus primórdios procurou através de suas composições denunciar a triste realidade vivida pelas camadas mais “baixas” da sociedade, suas músicas passavam por temáticas como violência social e policial, por exemplo. Em meio a atmosfera obscura que se criava em torno de suas narrativas, o grupo fazia questão que o choque não fosse apenas sonoro, sendo esse estendido ao visual de cada álbum lançado.
Abusando de tons de preto e de vermelho para a composição de cada capa, o resultado era sempre impactante, sendo um reflexo direto do que o ouvinte estava prestes a prestigiar. Algumas capas eram ainda mais potentes pelas fotografias retratadas, como em “Estamos de Luto” de 1988, onde em meio àquela combinação de cores ainda era adicionado em cenário de cemitério fazendo com que a mensagem se potencializasse ao máximo.
Capa de “Versos Sangrentos” (1999) Capa de “A Marcha Fúnebre Prossegue” (2001) Capa de “Juventude de Atitude” (1995) Capa de “Estamos de Luto” (1998)
Em meio a esse padrão de cores, uma capa fugia a essa premissa, porém, seu impacto era tão forte quanto, em “Direto do Campo de Extermínio” de 2003, uma pomba branca, símbolo da paz, morta funciona como o elemento impactante e que com certeza firma essa como uma das capas mais fortes da história do Rap nacional.
Essas são apenas algumas da vasta lista de capas marcantes da história do Rap nacional, quais outras vocês sentiram falta em nossa lista? Conta pra gente, esse é só o primeiro editorial especial da campanha #IssoNãoPodeSePerder.