Texto por: Yume e Nacao
A arte da discotecagem
A arte do disc-jockey é centenária. Existem teorias divergentes sobre os primeiros DJs do mundo, mas a importância dessa figura é unanimidade. Desde a primeira ópera reproduzida em equipamento por Reginald Fessenden em Boston de 1906, passando por Klaus Quirini (DJ Heinrich) na Alemanha de 1953, vindo pro primeiro DJ do Brasil, o grandioso Seu Osvaldo e a Orquestra Invisível (1958), o DJ tem o universo nas mãos. E também tem a responsabilidade de conversar com o público através do som, ou melhor, do som selecionado.
Agora, trazendo pro nosso universo, também temos teorias divergentes sobre como o Hip-Hop começou. A mais difundida é que a própria cultura nasceu dos riscos, naquela clássica festa do DJ jamaicano Kool Herc. Dia 11 de agosto de 1973, no Bronx (NY), rolou o baile que todos nós gostaríamos de ter colado. No esquema de usar os dois toca discos, já era possível aumentar os breakings das músicas. Foi nestes samples que nasceu o Hip-Hop.
O pai do Hip-Hop é DJ
E o padrinho também! Afrika Bambaataa, DJ e criador da Zulu Nation, nomeu o Hip-Hop e seus princípios, prometendo usar a cultura para tirar os garotos das gangues. Bambaataa começou a organizar festas por inspiração de Kool Herc e Cindy Campbell e Kool DJ Dee.
E desde esses começos pra cá, muito disco já rodou, dentro Hip-Hop e fora dele. É muito louco trazer estas datas do começo do Hip-Hop pro contexto brasileiro. No ano da festa de Kool Herc, a equipe de baile Chic Show comemorava 5 anos de caminhada. Seu Osvaldo já tinha lá seus 15 anos de carreira. Ele não fazia os scratches de Grandmaster Flash, mas já democratizava os espaços de bacana: com sistema de som ao invés de grandes bandas e orquestras, a Orquestra Invisível Let’s Dance prometia bailes bem mais baratos que o habitual.
As equipes de baile foram cada vez mais difundidas nos anos 60 e 70, e esse fenômeno influencia também a construção do Hip-Hop brasileiro. Nos anos 80, na 24 de Maio e posteriormente na São Bento, o fluxo do Hip-Hop já era forte. Lá, onde hoje chamamos de berço, os eIementos da cultura se encontravam, DJs orquestravam os rachas de break (claro, revesando com as boomboxes), e é imprescindível citar a importância de DJ Hum e DJ MC Jack, por exemplo, DJs que foram e são guardiões dessa cultura.
Fica aqui nosso obrigada também a alguns dos DJs que admiramos e que solidificam o Hip-Hop, papo de referência para nós: KL Jay, DJ Simmone Lasdenas, Erick Jay, DJ Hadji, DJ Vivian Marques, DJ Nato PK, DJ Tamy Reis, e os zikas da Discopédia: DJ Nyack, DJ Marco e DJ Dan Dan. A grandiosidade do trampo de vocês nos inspira todos os dias. Sem este corre, o Kalamidade não existiria.
9 de março também é conhecido como dia do DJ. Aprovada pela Unesco, em 2002 a data foi proposta pela World DJ Fund e pela Nordoff Robbins Music Therapy – instituição especializada no tratamento através da musicoterapia – com a ideia de fazer com que DJs, clubes e rádios doem parte dos seus cachês arrecadados neste dia (ou semana) para fundos infantis e instituições internacionais.
O Kalamidade e a discotecagem
A arte da discotecagem é o que nos move. É sobre conectar pessoas através do som e sermos condutores de histórias, eternizadas em fonogramas. Nosso caminho é o Hip-Hop. Respirando esse movimento, a cada minuto, todo dia, mantemos acesa a chama dessa cultura através do elemento DJ e – principalmente – do conhecimento. Para uma evolução e transformação social é necessário voltar ao começo. Olhando para o passado, buscamos a essência para seguir em frente: mantendo vivo quem veio antes, e garantindo que os de hoje permaneçam vivos amanhã.
O Kalamidade nasceu como forma de respiro, uma válvula de resistência por meio do ato político de festejar e celebrar a cultura de rua, pela junção de dois DJs de Hip-Hop. Ainda atuando para propagar a arte, o projeto se expande agora como meio de comunicação. Essa arte é a expressão e afirmação de um novo mundo. Mas ela não é nada sem o público. Lutamos para garantir que ela chegue a quem tenha que chegar, seja através da discotecagem ou através do portal. No fundo, é tudo um objetivo só.
Manifesto Kalamidade
Em homenagem ao dia do DJ, a redação do Kalamidade chamou os 7 DJs da casa e trouxe algumas mixtapes que não vão sair do seu radinho. Vem conferir:
DJ Yume
Conhecida pela curadoria fina com sua TrapLady Tape, Yume dessa vez nos presenteia com sua RapJazz Tape. Uma mixtape intimista e cheia de groove pra ouvir no fone e apreciar uma das fusões mais bonitas do mundo da música:
DJ Pepeu
Pepeu é conhecido pelas suas mixtapes temáticas, dissecando artistas e minerando o melhor de cada época dos mesmos. 2pac e Erykah Badu já passaram pela curadoria do Pepeu que hoje trás a Dogg Style Tape Vol. I, uma seleção com o melhor gangsta rap do Snoop Dogg:
DJ Neew
No corre há milianos, DJ Neew vive e respira o Hip Hop. Beatmaker, produtor e educador, Neew foi do Bocada Forte e é DJ da Dory de Oliveira. Resgatamos a Dinadi Tape – A Era de Ouro do Rap Nacional Vol 1, mixtape que tem a finalidade de resgatar musicas de grupos da antiga do rap nacional:
DJ Nobru Izru
Residente do Hip Hop Sunday Sounds, Nobru traz seus sets cheios de boom bap. Entusiasta dos scratches, Nobru trouxe a Nobru Is Who? Vol. I, uma seleção de 20 sons que não saem dos fones do DJ. Vem conferir:
DJ Nacao
Com mixtapes que passeiam por vários gêneros musicais, Nacao chega com uma seleção finíssima com o seu mini_mix_10 – grime. Nela, o DJ passeia por influências que vão do UK Garage ao Funk, minerando o melhor que o Grime tem para oferecer.
DJ Rua
Em atividade no Hip-Hop há 25 anos, Rua participou de diversos grupos de Rap, em destaque para o grupo Código Morse, Banca Raciocínio, e Rap Plus Size. Criou o Time de Rua Records (Home Studio) e já ministrou diversas oficinas de discotecagem e produção musical. Resgatamos sua mixtape dos apaixonados:
Mabruxo
Membro da Ujimagang é produtor e DJ residente do Baile da U.G. Entusiasta da música e movimentador de corpo. Resgatamos uma de suas mixtapes da coleção Sarrada Responsável, RnBzão que vocês não podem deixar de conferir:
Como disse Bill Brewster no prefácio de Todo DJ já Sambou (livro de Cláudia Assef, indicadíssimo), “os DJs são filtros pessoais. (…) Tocar a música certa na ordem certa é a essência do trabalho do DJ. É muito mais complicado do que parece (você deveria tentar um dia desses). Esqueça os truques, as combinações, as viradas e os scratches. Tudo isso é legal e enriquece a apresentação, mas não é aí que está a grandeza de um DJ. É necessário conhecer na intimidade os contornos de cada música, saber quais partes fazem os braços se levantarem e quais fazem a plateia fugir para o bar.”
Deixamos aqui nosso obrigada pelos profissionais que estão neste corre e para celebrar nosso dia, que tal flagrar o último episódio do nosso podcast Barulho pro DJ com a Vivian Marques?