No dia 18/12 estive em João Pessoa para o retorno da Batalha da Paz. O evento que aconteceu na Praça da Paz, esteve em hiato devido à pandemia de Covid-19, o que fez o retorno ser um acontecimento esperado por todo mundo da região, isso é, não apenas a galera de João Pessoa, mas das cidades circunvizinhas também. Assim, as massas estiveram no anfiteatro da praça para a 43ª edição da Batalha da Paz, que trouxe também a primeira edição da Batalha de Beats.
Uma das idealizadoras da Batalha, a poetisa Isadroga, trocou uma ideia com a gente contando um pouco sobre o início da Batalha da Paz:
A noite começou com uma celebração e homenagem às vidas perdidas para a Covid, dentre essas, participantes da Batalha. Mas não apenas para a Covid, pois a violência continua ceifando vidas pretas.
As poesias dominaram os primeiros momentos da batalha, todas declamadas com muita energia, refletindo sobre negritude, classe social e sobre a situação política atual. É impossível separar o evento de seus arredores.
A Praça da Paz está localizada no bairro dos Bancários (nome sugestivo), um lugar que cresceu economicamente e verticalmente, cercando a praça com fachadas de prédios de escritórios e apartamentos. Enquanto a praça em si é mal iluminada (prefeito, põe LED naqueles postes!), ela não deixa de ser um exemplo de quão arborizada a capital da Paraíba é.
Nesse cenário onde famílias passeiam e pessoas fazem seu exercício diário, é que a Batalha da Paz liga o microfone e ocupa o espaço que por direito é deles: o anfiteatro Lúcio Lins, nomeado assim em homenagem ao poeta pessoense falecido em 2005. E assim, a poesia continua.
Por incrível coincidência, encontrei com um MC que fez o mesmo trajeto que eu, saindo de Campina Grande para João Pessoa, apenas para estar na Batalha da Paz. Mas antes de batalhar, Gblack pegou o microfone para mostrar uma outra habilidade sua, o beatbox. Em defesa dessa vertente do Hip-Hop, ele mandou uma ideia:
A Batalha de Beats aconteceu ao mesmo tempo que a Batalha de Rimas, com os MCs pegando batidas que nunca ouviram antes para tentar encaixar seus versos. Infelizmente a batalha teve alguns problemas técnicos. Primeiro, por ter apenas uma caixa, o som não estava chegando tão limpo pra quem estava no topo do anfiteatro, e justamente por ter muitas pessoas, às vezes a conversa da plateia acabava sendo mais alta do que a caixa.
Mesmo assim, os jurados da Batalha de Beats estavam lá no palco, de ouvido grudado na caixa. O Trap acabou dominando a noite, o que nem sempre favoreceu os MCs, mas Lucas “OVERDOSE” foi escolhido como o vencedor. Suas batidas (que estão à venda) são trabalhadas com MCs em mente, o que provavelmente ajudou na escolha.
Mais do que a Batalha, o evento na Praça da Paz é sobre a ocupação de um espaço, é sobre celebrar a comunidade, e estar lá para ver tanta gente diferente, tão feliz em se ver e curtir a nossa cultura, já valeu a viagem de volta, pegando estrada meia-noite pra voltar pra casa.
Um salve pra todes da Batalha da Paz!
OBS: Isadroga recentemente lançou seu livro de poesias autorais “Vícios”, que pode ser adquirido, clicando aqui.