Bem-vindo à mais um “Pega a Visão“! No interior da Paraíba, Campina Grande é uma cidade de médio porte mais conhecida como a cidade do Maior São João do Mundo, uma festa com 30 dias dedicados ao forró (agora ao sertanejo) e à cultura local.
Numa cidade onde qualquer universitário médio tem sua própria banda de rock alternativo ou de forró universitário, encontrar pessoas dedicadas ao hip hop pode ser relativamente fácil agora, mas na virada do século, 20 anos atrás, não foi assim que Thiago Joh se sentiu.
DJ Joh, CEO da 189 Records, beatmaker, produtor e DJ, é natural de Campina Grande e o produtor mais prolífico da cidade. Sem estilo definido, apesar de ter começado com e feito mais Boom Bap, Joh enxerga o hip hop como paixão, antes de qualquer coisa.
De trocar fitas pela cidade em busca do som do Racionais MC’s (Raio-X do Brasil), ou pedir para a mãe encontrar o CD do Escadinha (Brazil 1: Escadinha Fazendo Justiça com as próprias mãos) em uma de suas viagens a São Paulo, Thiago começou a se aprofundar no mundo das batidas quando assistiu um show da Pavilhão 9 na cidade e pôde entender qual era o trabalho do DJ.
Já nos Estados Unidos, quando foi em busca de melhores oportunidades, Joh se aprofundou, muito por proximidade, na cultura e em conhecer mais artistas emergentes do rap. Entre eles, sua maior inspiração: a colaboração entre MF DOOM e o produtor Madlib, a quem ele descreve como dois gênios.
E assim o som de Joh se define, em buscar algo novo e em experimentar onde puder. Lá de fora não trouxe apenas o conhecimento de nomes, mas equipamentos que jamais conseguiria por um bom preço, aqui na cidade, e ao se juntar com amigos que também se interessavam pelo gênero, formou o seu primeiro grupo de Hip-Hop, Prática Ninja, dividindo a produção de batidas com um parceiro.
Apesar de nunca terem se apresentado em nenhum lugar, esse foi um passo importante para a formação de outro grupo, Projeto Binário, Joh era o único beatmaker. Formado em Arte & Mídia pela Universidade Federal de Campina Grande, em uma de suas primeiras turmas, Thiago Joh falou de como a formação o ajudou.
Tinha muita coisa lá que ainda precisava arrumar, por exemplo eu lembro que fiz uma prova escrita sobre HTML, coisa que eu não imagino ninguém formado lá precisando saber. Já outras coisas, como as aulas do Professor Barbosa (música), onde ele era muito sincero e dizia mesmo que uma coisa tava ruim – até hoje eu me pego ouvindo a voz dele quando faço uma coisa que não acho que está em um bom nível
Outra influência desse professor foi uma palestra em que convidou um especialista no software Reason, que era o programa que Joh utilizava para produzir suas músicas, na época, o DJ começou a se aprofundar nos softwares e sentir mais facilidade em produzir assim.
Quando o Rap passou a ser mainstream, Joh sentiu um gostinho de vingança. Ele conta como outros artistas da região, de cenas alternativas, não aceitavam o Hip-Hop como um deles. A subida do trap para o topo das paradas de streaming desequilibrou uma balança, mas Joh não fez cara feia e foi em busca de influências e de aprender o som também.
“O pessoal romantiza demais as coisas, hoje em dia. Com o Hip-Hop é assim também. Romantizam o Boom Bap. Eu não sou fechado, busco pegar o que eu puder”
Nisso, Joh chegou ao gênero que vem trabalhando mais nos últimos dois anos. Diretamente do Reino Unido, o Grime tomou o Brasil, dando nascimento ao seu próprio subgênero, o Brime. Antenado, Thiago é mais um fã do Brasil Grime Show e foi aprender a fazer esse som, também. Em seu canal de YouTube (onde ele também é o cinegrafista e editor), o Drill e o Grime vêm tomando o máximo de espaço possível, principalmente com os artistas que a 189 Records enxerga como parceiros, Lay Luz, Pivetinha e Nero.
O que atraiu o DJ para os sons do UK foi a brutalidade do som, “depois do Grime, o trap perde a graça. Até tem muita demanda, mas eu não tô conseguindo fazer”. Mas apenas replicar o som que vem de fora não estava nos planos do DJ Joh.
Eu vi o pessoal ali a galera no Rio misturando com funk, aí eu pensei ‘pô vamos misturar com brega funk, uma coisa nossa e que vai dar um diferencial’ e acho que a galera elogia mais a gente por causa disso
E assim a mistura de brega-funk-drill surge como uma assinatura da 189, com inovação e busca de fazer diferente.