DJ Chitta

DJ Chitta: sets que valorizam o Hip-Hop e vozes do interior

DJ Chitta acredita no papel social do DJ e busca dar espaço para as vozes da sua cidade e região

No Pega a Visão de hoje, DJ Chitta!

Salve família! Gustavo novamente por aqui para trazer nomes que ainda não estão, mas deveriam estar tocando nos seus fones. O Pega a Visão de hoje vai apresentar o corre de uma DJ, Beatmaker e Produtora que movimenta a cena cultural da cidade de Lavras (MG), e do Sul de Minas, realizando eventos com as mais variadas expressões da cultura negra, e carregando no seu set toda a valorização das vozes e artes do interior. Prestem atenção: DJ Chitta na voz.

De Fernanda Senna a DJ Chitta

Fernanda Senna teve contato com a arte desde muito nova, identificando-se com músicas, festas e eventos até finalmente se descobrir DJ.

Eu sempre achei incrível a função de criar músicas, de comandar músicas. Quando eu tinha 12 anos eu frequentava aquelas matinês, aqueles eventos de adolescente, e ali me despertou pela primeira vez a vontade de ser DJ. E eu guardei essa vontade comigo por 10 anos, porque eu comecei como DJ de fato com 22. Então desde muito cedo eu tenho esse sonho cozinhando dentro de mim, por muito tempo.

Como muitos de nós, a DJ passou muito tempo atuando de uma forma passiva na cultura. “Frequentava batalha, evento na praça, em outras cidades, mas o Hip-Hop sempre despertou a minha atenção. Quando eu tinha 17 anos, na faculdade eu me envolvi com movimento social, movimento cultural, estudantil e a partir disso eu passei a atuar de uma forma ativa no Hip-Hop”.

Em todos os eventos Chitta dava um jeito de tomar a frente e incluir o Hip-Hop, com a intenção de colocar a cultura negra em espaços culturais elitizados, como foi o caso da universidade. 

Todo espaço cultural que tinha a possibilidade de incluir o Hip-Hop eu dava um jeito.

Chitta fazia essa ponte de chamar os grupos de Rap, os caras que dançavam Break, o mano que faz freestyle, e assim incluía o Hip-Hop nesses espaços que os movimentos organizavam. Com isso ela foi se identificando cada vez mais com eventos, com a possibilidade de organizar e construir espaços como o Encontro do Orgulho Crespo e vários Novembros Negros. A partir de 2017 o Hip-Hop em Lavras, e no Sul de Minas, deu uma expandida, começaram a surgir vários grupos e MCs.

Em 2018 eu ajudei a organizar o Ritmo e Poesia, um evento que surgiu nessa intenção de dar espaço aos artistas locais. A gente trouxe o Sidoka como artista principal e todos os outros artistas eram daqui de Lavras ou região. O evento teve uma repercussão muito positiva aqui na cidade, tanto que no ano seguinte a gente fez a terceira edição trazendo o FBC e foi uma repercussão ainda maior, lotou a casa, foi muito sucesso mesmo, e deu visibilidade pra todos os artistas da região que se apresentaram;

Expressão da arte negra

Em seus trampos, DJ Chitta sempre traz um repertório muito variado de referências. Desde sons old school, passando por Boombap, Trap, Funk, R&B, além de muito MPB, Samba e Jazz. 

Todos esses gêneros têm em comum o seu surgimento enquanto expressão da arte negra.

DJ Chitta durante uma de suas lives

A DJ usa essa mistura como ferramenta de transformação social, empregando a ferramenta revolucionária que é a música. “A gente pode ver que todos esses gêneros descendem de um ideal em comum, então o DJ colocar essa mistura é fantástico e algo que eu aprecio muito quando estou curtindo um set, ouvindo um som, e quis aplicar no que eu faço, tanto nas minhas produções quanto nas minhas lives”.

Quando vai tocar, DJ Chitta gosta sempre de misturar um Trap com um Boom Bap, daí passa para uma música brasileira mais calma, um R&B, depois para um Chill out com uma pegada de Trap, na sequência sobe o BPM para uma pegada mais animada. “Eu acho que essa é a função do DJ, mixar, misturar essas músicas, e quando elas têm um ideal em comum fica tudo mais interessante”.

Interior tem voz

Nos sets e produções da DJ vemos também uma grande valorização e divulgação da cena de Lavras e região, trazendo para os seus sons o trabalho de diversos artistas e provando que o interior tem uma voz que merece e precisa ser ouvida. “Eu acredito que o DJ tem um papel social, assim como o Hip-Hop e seus elementos. Você está tocando pra pessoas, então tem uma certa responsabilidade de transmitir a mensagem para quem está ouvindo. Tendo essa atenção do público eu posso usar em prol da arte e cultura da minha cidade, assim como já fiz em vários eventos pra divulgar e dar espaço pra artistas daqui e da região”.

DJ Chitta durante show de abertura da turnê Ladrão do Djonga em Lavras

Em suas lives DJ Chitta sempre coloca o som novo de algum parça ou alguma parça de Lavras. Recentemente a DJ fez, em uma live, um set de uma hora e meia só com trampos autorais da região.

É de extrema relevância que nós, DJs pretos do Hip-Hop, trabalhemos pra fortalecer e divulgar o trampo de outros irmãos pretos do Hip-Hop.

Para a DJ é extremamente importante os artistas valorizarem outros artistas independentes, que precisam desse reconhecimento. “Como eu disse, nós por nós, porque se não for nós, não vai ter nós, tá ligado?”, (risos).

Pandemia, lives e Uh! Manas

O ano de 2020 com certeza trouxe muitas mudanças para o trampo de todos que trabalham e vivem de arte. DJ Chitta entrou no mundo das lives com força, inclusive fazendo parte das programações do Uh! Manas TV, canal de música com conteúdo inteiramente produzido por mulheres. O Uh! Manas é uma parada incrível né cara?! Eu falo sempre que a Uh! Manas me salvou. O começo da pandemia foi tenso pra todo mundo, paralisou a vida de todo mundo e eu fiquei estagnada. De repente não tinha mais aula, não tinha mais evento, não tinha mais show, e isso me paralisou, tivemos que adiar um evento que ia rolar no final de março e não rolou até hoje, e foi frustrante pra todo mundo. Até que a DJ Beea, de Ubatuba (SP), me convidou para participar do Uh! Manas, que já tava rolando há um mês”. 

O coletivo é formado por mulheres DJs do Brasil e de fora que surgiu na intenção de promover uma união e organização das DJs na pandemia, sendo inclusive um escape para a atuação delas nesse momento. “Acredito que pra muitos artistas essa sensação de impotência ficou ainda mais forte, porque onde se apresentar? Onde mostrar meu trabalho? E a Twitch foi uma fuga, um escape que tá aí até agora só crescendo em relação a lives de DJs, e música em geral”.

É muito interessante isso, porque antes do Uh! Manas eu conhecia pouquíssimas DJs mulheres, agora eu conheço mais de 100.

O coletivo traz uma programação diária e variada de mulheres que tocam desde vinil dos anos 70, até DJs de música eletrônica, Techno, Samba, Rap, de tudo. “Isso é muito valioso, eu não seria a DJ com as técnicas e habilidades que eu tenho hoje se não fosse pela Uh! Manas. O coletivo agregou muito na minha experiência como DJ e pessoa”.

DJ Chitta em live pela Uh! Manas

A Uh! Manas está revolucionando tanto que está concorrendo ao prêmio de Inovação na Web no WME Awards, além de três DJs do coletivo estarem concorrendo na categoria de Melhor DJ. “O projeto tomou uma proporção, tomou uma força que só tende a crescer e colher bons frutos depois da pandemia. E eu só tenho a agradecer em estar participando deste coletivo que só tem mulheres fodas”.

O grupo 1 Só

No dia 14 de setembro de 2019 junto com DG e Leik, formando o trio 1 Só, a DJ foi responsável pelo show de abertura da turnê Ladrão do Djonga, que passou por Lavras. “1 Só é uma parada meio sentimental pra mim. Na real acho que ninguém sabe ao certo como eu me tornei DJ da 1 Só, simplesmente aconteceu, da proximidade que eu tinha com os meninos, sempre tava em rolê junto, todo evento que tinha dava um jeito de abrir um espaço. Então por eu já estar bem envolvida, os meninos não terem DJ, e eu sempre querendo produzir, tava com a faca e o queijo na mão, aí eu decidi correr atrás, fiz curso de produção musical e me tornei DJ da 1 Só, nada muito conversado, quando eu vi já tava fazendo show”.

O show de abertura do Djonga aconteceu em consequência da terceira edição da Ritmo e Poesia, quando o trio abriu o show do FBC, em março, e a galera que tava na organização do show do Djonga viu e então rolou o convite para abrirem a turnê que passaria em Lavras em setembro. “A gente ficou praticamente o ano inteiro se empenhando e ensaiando para aquele show do dia 14 de setembro. Foi muita preparação, era um sonho, era tudo que a gente queria: um palco grande, estruturado e um público. Vários shows que a gente fez tinha uma estrutura legal mas um público que não era do Hip-Hop, ou um público massa mas sem uma estrutura boa, então aquele evento foi a maior realização profissional que a gente teve até então”.

Grupo 1 Só: Leik, Chitta e DG.

Papo de futuro

Para o futuro próximo o que a DJ Chitta pode nos adiantar, e planejar, são as lives. “Eu tô fazendo live todos os domingos, às 21h, e toda sexta-feira, às 16h, na programação do Uh! Manas. Como produtora infelizmente a gente que organiza vários eventos aqui na cidade enquanto tiver nessa situação de pandemia fica tudo muito incerto e inviável, mas com certeza faremos outros eventos assim quando tivermos em condições melhores”.

DJ Chitta

Nos Beats a Chitta está pra lançar um som com o DG, Linhas de Fogo. “Se Deus quiser o clipe vai sair esse ano ainda, e pro ano que vem já tem alguns singles e clipes engatilhados que nós dois fizemos juntos”. A 1 Só ficou em stand by durante pandemia. Até rolou uma live no começo, mas agora o grupo está mais focado nos trampos solos. Leik está pra lançar um álbum a qualquer momento, e até o começo do ano que vem todas as músicas da 1 Só estarão na pista. A certeza que podemos dar neste ano incerto é que vem muita música boa por aí!

Acompanhe o trabalho da DJ Chitta nas redes.

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