A história do Boom Bap

Sem dúvida, o estilo mais clássico de se fazer rap fez parte da ascensão do movimento Hip-Hop como um todo, especialmente entre os anos 1970 e início da década de 2000.

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O Hip-Hop é um dos gêneros musicais mais versáteis dentro da indústria. Tanto pelas mudanças pelas quais passou ao longo do tempo, como pela facilidade com que se mistura a outros estilos musicais. E isso é ainda mais perceptível quando analisamos as formas como as músicas foram produzidas durante os anos.

Em alguns momentos será difícil separar determinados estilos de música ou instrumental. Alguns se diferenciam por pequenos detalhes, outros são bem semelhantes em sua composição, mas diferentes em seu aspecto histórico. Por isso o primeiro dessa lista será o mais tradicional e ‘raíz’ do Rap, o Boom Bap.

Sem dúvida, o estilo mais clássico de se fazer rap fez parte da ascensão do movimento Hip-Hop como um todo, especialmente entre os anos 1970 e início da década de 2000. 

Dr Dre e DJ Premier – imagem divulgação

É difícil determinar quem deu nome ao Boom Bap. Mas muitos atribuem ao MC nova iorquino T La Rock e às primeiras citações em uma letra de música em meados dos anos 1980. A expressão surgiu como algo que ele fazia naturalmente durante os shows e gravações como forma de seguir o compasso da batida e fazer a marcação da bateria, até se tornar o que é hoje.

O termo faz referência à interação entre o bumbo (kick) e caixa (snare), herança da música soul e funk dos anos 1970 quando a batida da bateria era bem destacada e se criava o rap a partir do break da música – parte instrumental onde DJs faziam um loop e os MCs usavam para animar as festas e depois rimar. 

Nas palavras do mestre KRS One:

O ‘boom’ é o bumbo e o ‘bap’ é a caixa. Boom bap é um estilo de música em que a bateria é altamente enfatizada…

…e completa dizendo que o Boom Bap “se mantém fiel à composição original do hip hop porque remete aos dias em que DJs e apresentadores tinham pouco equipamento de gravação e faziam música com os trechos sonoros de outros artistas”. Ele foi responsável pela expansão e popularização do Boom Bap nos anos 1990, principalmente com o clássico álbum Return Of The Boom Bap lançado em 1993, cujo estilo de se fazer rap era característica forte principalmente na costa leste dos Estados Unidos, nos bairros de New York.

KRS One: o brabo – imagem divulgação

Tão ou mais importante até do que os MCs, os DJs e produtores foram os grandes responsáveis pela explosão do Boom Bap. Em especial, DJ Premier e Pete Rock, que produziram grandes lendas do Rap como NAS, Notorious B.I.G e A Tribe Called Quest. Sempre com baterias fortes e samples muito bem escolhidos e cortados, por vezes, acompanhado de scratches e colagens nos refrões.

Além de DJ Premier e Pete Rock, outros produtores como Marley Mall, Diamond D, RZA, Havoc, J Dilla, Q-Tip, Apollo Brown, Madlib, MF Doom, Notz, 9th Wonder, The Alchemist e uma infinidade de beatmakers produziram beats Boom Baps de músicas que se tornaram hits dentro da cultura Hip-Hop. 

Alguns equipamentos foram fundamentais na construção do Boom Bap. Além do toca disco, a Akai MPC60, a E-mu SP-1200 e a Roland TR-808 foram drum machines amplamente usados por produtores nos cortes de sample, no desenvolvimento de bateria e até mesmo em efeitos com BPMs que variavam de 80 – com raps como os de Kool Moe Dee – até 100 ou mais como é o caso de algumas produções de Fu-Schnickens e Run DMC.

J Dilla e Madlib em São Paulo – imagem divulgação

Lembra que falei da versatilidade do Rap no início do texto? Pois bem, essa característica também é forte dentro da indústria musical mainstream, que é guiada pela máxima de produção de grandes hits devem ser consumidos massivamente.

A mudança de valores, postura da juventude e da sociedade como um todo também influenciaram de forma direta a saída do Boom Bap do mainstream, que posteriormente foi usado como base para criação de diversos subgêneros. E se durante duas décadas o boom bap dominou e ditou as regras, isso acabaria no início dos anos 2000 com o rap se reinventando para se manter nos holofotes e com o surgimento de músicas e subgêneros mais palpáveis, que agradassem um público maior ainda, como é o caso do Dirty South, o Crunk e anos depois o Trap.

Outro fator que influenciou a mudança e a forma de se fazer Rap foram os processos  por direitos autorais sobre samples. Fazendo com que o uso desses ficassem cada vez mais restritos, principalmente dentro do Boom Bap, que é um dos que mais utiliza dessa arte.

Mas se engana quem diz que o Boom Bap não tem mais espaço. Estar fora do mainstream da música ou fora dos top 10 da Billboard não significa que o estilo morreu. Dentro do Rap, grande parte das produções são no estilo boom bap e o gênero ainda possui um público muito grande e muitas vezes composto por pessoas que são mais ligadas à cena hip hop.

Também é fato que muitas e muitos MCs e produtores/as não se prendem a um único gênero e conseguem transitar entre os diferentes estilos de Rap – Joey Bada$$ é um exemplo de MC atual que usa o estilo como base para seus trabalhos.

RPW: Rúbia, DJ Paul e também W-Yo – imagem divulgação

Contar a história do boom bap no Brasil talvez seja um pouco mais complexo, pois a referência musical era o que vinha dos Estados Unidos (scratchs ,uso de samples e colagens) que começou a ser notado em vários discos dos anos 1980 e 90 no Brasil. De Thaíde e DJ Hum até o chamado ‘bate cabeça’ de músicas de grupos como RPW e Doctors MCs. 

O gênero aqui começou com BPMs mais rápidos, ficou mais lento com o passar dos anos, com músicas que tinham como meta principal contar histórias e por conta disso, precisavam ser mais cadenciadas. Mas nos anos 2000, com produtores como Parteum, o Boom Bap ganhou novos contornos e hoje é difícil determinar em que pé ele está em terra brasilis, dada a vasta gama de grupos, MCs e produtores que trabalham com esse estilo, mesmo não sendo ele o mais popular no mercado musical que atinge o público mais ‘’eclético’’.

Fato é que o Boom Bap é a raiz que fez crescer e criar diversos frutos dessa árvore chamada rap. E, estando no mainstream ou fora dele, o gênero sobrevive e se mantém vivo. Para muitos, sempre será o ‘real’ Hip-Hop.

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